Felizmente, a “infinitude”, a eternidade, a plenitude e a universalidade de Deus não
deixam sua soberba ser contaminada por estes adjetivos, do contrário, a existência de todas
suas criaturas seria um “inferno”!
Imagine-se a propaganda divina poluir todas as atuais criações, nas membranas
celulares com a seguinte mensagem microscópica: “Você não tira os olhos de mim!”, nas peles epidérmicas com tatuagens de nascença escritas “Você foi feito por mim”, ou nas estrelas formando o aviso: “Você não está sozinho”!
A discrição humilde do autor universal possibilita, entretanto, a descrença humana de
sua existência, apesar de intermináveis provas cabais a favor, na própria natureza em que evita ser divulgado.
Ao invés de impor sua identidade colossalmente ímpar, prefere ocultá-la, ficando
invisível; só companheiro de conversa pelas orações, pedidos e agradecimentos; e
correspondente de seu grandioso amor, quando o crente se aproxima dele.
Sua criatura, todavia, portador de um saber infimamente menor, faz questão de
alardear, aos quatro cantos das dimensões da realidade, suas verdades promovidas a
absolutas, universais e inquestionáveis, sobre a identidade do Criador, revelada pelas
escrituras sagradas, praticamente terceirizadas quanto à autoria, pela tradução traiçoeira dos séculos e das civilizações diferentes.
Ainda que permaneça a verdade divina, resumida pelas três frases propagandísticas
mencionadas, cada pregador toma posse delas, anunciando- como únicas e dignas de serem aceitas e respeitadas, como se os outros afirmassem verdades diferentes ou falsas, devido a interpretações, conjunturas e conclusões diversas, dos textos sobrenaturais anexos e respectivos.
A variedade da literatura religiosa deífica, que deveria ser compartilhada entre os
povos para enriquecimento sábio e espiritual mútuo entre os povos, serve, entretanto, como
motivo de discórdia soberba e inútil, dado que baseia-se em opiniões de fé, e não de fatos
incontestáveis ocorridos e testemunhados diretamente do Criador.
Mais uma vez, a camuflagem da identidade divina se justifica, na lição ensinada e não
aprendida pela humanidade: “a humildade unifica, a soberba separa”.
A diversificação de dogmas, preceitos, ritos, conhecimentos e sabedorias dos guias
espirituais deveria esclarecer o papel secundário, não menos importante, dessas
características, que deviam ser encaradas como múltiplas visões facetadas de um único Deus, ricas o suficiente para serem sujeitas a tantas interpretações, pelas civilizações através dos tempos.
Deveria ser uma situação mais que óbvia, dada a complexidade descomunal e
incomparável a qualquer outra criação e criatura de Deus, que é impossível de ser estudado,
compreendido e aceito profunda e perfeitamente, por meio de uma única religião, presa ao se povo crente, em certa posição geográfica e em certo tempo finito da Terra, um corpúsculo insignificante no universo sem medida e tempo.
Ainda que todas as religiões, seitas e filosofias do mundo, de todos os tempos, se
fundissem numa universal, o entendimento do Criador seria tremendamente falho, parcial,
tendencioso e datado.
Pois a sabedoria finita humana nunca abarcará a infinita divina.
Wilson Nomura